Bolsonaro é o responsável pelo atual estado de coisas no Brasil?
Se isto é verdade, talvez precisemos reescrever a história da Revolução Francesa, e atribuir a Luís XVI a conta dos mortos pela guilhotina
Bolsonaro foi um bom governante ? Esse é um tema que divide os brasileiros. Minha avaliação é a de que , como em todos os quadriênios, houve erros e acertos em seu governo. Entre os acertos podemos enumerar as inúmeras conquistas no plano econômico, como a aprovação da independência do Banco Central e do Marco do saneamento; a reforma da previdência, a privatização da Eletrobrás, e diversas outras. Chama a atenção, também, a queda de 30% registrada nas taxas de homicídio (2022 comparado a 2017) parte da qual pode ser atribuída a políticas acertadas na área de segurança pública. Houve erros, como a postura do presidente assumida durante a pandemia (ainda que muitas de suas intuições , a este respeito, tenham se mostrado corretas), e talvez sua falta de empenho em patrocinar um ajuste fiscal ainda mais rigoroso do que o implementado por seu ministro da fazenda.
A economia do Brasil vive um bom momento. Como já destaquei em artigo anterior, boa parte da dinâmica positiva pode ser atribuída ao ambiente externo favorável, e às reformas implementadas no período 2016-2022. É mesmo provável que o atual bom momento da economia persista por mais tempo.
O mesmo não pode ser dizer da direção de longo prazo do país, que torna-se incerta pela provável materialização futura dos efeitos adversos que advirão, ao longo do tempo, pela repetição das já conhecidas estratégias de operação do PT, que incluem a retomada dos investimentos da Petrobras em atividades pouco rentáveis, a reativação do BNDEs, a perspectiva de crescimento das despesas públicas a um ritmo médio de 6% ao ano acima da inflação, entre 2023 e 2024, e a sanha arrecadatória contra as empresas e indivíduos, que objetiva elevar a carga tributária em 0,5% do PIB , anualmente , até 2026, para cumprir as irrealistas metas fiscais fixadas pelo novo “arcabouço”e a expansão exagerada das despesas. Todas essas políticas, ao longo do tempo, contribuíram para a recessão de 2015-16, a maior registrada na história do Brasil. Também contribuem para essa incerteza o evidente desequilíbrio existente na governança da república, ilustrado, para citar apenas alguns exemplos, pela transmutação do poder judiciário em legislador, pelos repetidos desrespeitos à liberdade de expressão, e pela manutenção da prisão de pessoas sem o devido processo legal.
É comum, nas redes sociais, na imprensa e em conversas privadas, ouvirmos o argumento de que a “culpa” do estado de coisas em que o país se encontra é de Bolsonaro. Tivesse o ex-presidente agido com mais sabedoria, segue o argumento, não teria se indisposto com os demais poderes; não teria causado repulsa à parte da população por sua postura na pandemia, e, assim, teria vencido a eleição, talvez possibilitando ao país estar numa situação que oferecesse melhores perspectivas a longo prazo. Ou, piores, na avaliação da outra metade da população, que julga ser Bolsonaro o pior cancro que já ocupou a presidência, o que torna positivo (ou menos pior) qualquer estado de coisas que o tenha substituído. A situação presente ser pior ou melhor do que sua contrafactual depende de um julgamento pessoal, e não faz parte do argumento central desta nota.
A narrativa de atribuir a Bolsonaro a culpa pelo atual estado de coisas é até compreensível, mas não resiste a qualquer exame de consistência histórica. Ora, se a culpa pela situação atual do Brasil é de Bolsonaro, também a culpa pelas 30 mil pessoas guilhotinadas pelos jacobinos, na revolução francesa, seria de Luís XVI ? Estaria na conta dos últimos soberanos Qing ou de Chiang Kai-Shek as dezenas de milhões de mortos pelo regime maoísta; nas costas do Tzar Nicolau o peso dos assasinados por Lenin e Stálin; ou nas de Fulgêncio Batista as mortes e a miséria com que Fidel Castro e seus comparsas fustigam Cuba há mais de 60 anos? Seria Macri o responsável pelo golpe final imposto pelo peronismo à economia Argentina, que no último quadriênio viu a inflação anual escalar de 15% a 150%, e o valor do peso depreciar de 20 a 350 unidades por dólar? Do lado positivo - o mal representado por Hitler e a incompetência de Chamberlain potencializaram a subida ao poder de Winston Churchill, político que se revelaria um dos maiores estadistas da história. Seria então daqueles o “mérito” por toda a brilhante carreira do primeiro ministro inglês ? Augusto, que tornou-se o primeiro imperador romano após a guerra civil que se seguiu ao assassinato de Júlio César pelos senadores, revelou-se um governante justo, sob cuja liderança o império viveria um período de paz e prosperidade. Mérito dos senadores assassinos?
A verdade é que a história segue seu curso, ao longo do qual cada um de seus atores é responsável por seus próprios atos, e os eleitores, pelas consequências de suas escolhas. O Brasil de hoje está diante de muitas oportunidades. Rico em recursos naturais, produtivo no agronegócio, abriga uma população que em grande parte é de boa índole e trabalhadora. Do outro lado, tem inúmeros problemas, de governança constitucional, de incerteza jurídica, de excesso de impostos e despesas do estado, para citar apenas alguns. Como consequência das políticas crescentemente populistas, vê aumentar a parcela da população dependente do estado, uma perspectiva que é péssima para a democracia.
O futuro, tanto no plano da prosperidade econômica quanto do fortalecimento de um ordenamento legal que garanta um estado pleno de direito, depende da atitude de cada um de nós, e da postura da classe política. A situação presente é o que é - para o bem, e para o mal - e atribuir a eventos recentes ou atores específicos sua emergência, além de constituir falácia lógica e inverdade histórica, não fará com que nossos problemas desapareçam.
No meu entendimento é uma pergunta que não se sustenta, a começar pelos inimigos e sabotadores (Maia, Alcolumbre, STF e a mídia) que não o respeitaram e não deixaram ele governar. Foi o começo de uma era de prosperidade interrompida. Ademais, não foi ele que perdeu, e sim o sistema que manipulou a justiça e as eleições para libertar um condenado e elegê-lo, por ser o único capaz de concorrer com ele em condições de vencer. O Brasil virou uma piada dantesca.
Fiquei curioso com o título. Mas sinceramente não achei isento. O Bolsonaro conseguiu “inúmeras” conquistas? E no lado negativo, houveram erros…mas as suas intuições foram corretas? O que significa isto? E os “pequenos deslizes” referente aos precatórios? Ou a manipulação nos impostos dos combustíveis? E o recuo quase que total nas privatizações? E a obsessão com as armas mas nenhuma preocupação sobre o desastre na área da educação (é só olhar os vários ministros que passaram pela área, acho que o último foi um pastor envolvido com barras de ouro) e para finalizar porque que não fez a reforma tributária e agora até pediu para votar contra sendo que o Tarcisio achou por bem apoiar, dizendo que as bases desta reforma foram gestadas pela equipe do Guedes? Mas concordo que houveram acertos, como a reforma da previdência (diga se de passagem que o Bolsonaro sempre votou contra) e o Banco Central independente. Infelizmente as idiossincrasias do Bolsonaro o fizeram ser responsável pela eleição do Lula.
Concordo 100% com você que nossos problemas são de
Governança, insegurança jurídica ( veja que um ministro do STF acaba de achar correto uma deputada correr atrás de uma pessoa com arma na mão! Imagina se amanhã eu me desentender com alguém do PT e o mesmo Ministro entender correto ser perseguido por um petista armado!!!), excesso de impostos, e todos os outros mencionados.
Meu comentário acima não isenta os riscos enormes que temos com o Petismo. E a culpa não é do Bolsonaro, é nossa mesmo. Do Povo brasileiro.