O Brasil na Encruzilhada
Ou a sociedade reage aos últimos acontecimentos, ou a subida de juros e a disputa pela pequena fração de despesas discricionárias do orçamento serão em breve os menores de nossos problemas econômicos
De forma surpreendente, a atividade econômica vem se mantendo elevada nos últimos trimestres. Pode-se mesmo dizer que está se acelerando. O mercado de trabalho encontra-se muito aquecido. A taxa de desemprego está em 6,7%, o menor valor em dez anos. A massa salarial cresce 9% acima da inflação. A expansão das concessões de crédito a famílias e empresas prossegue em ritmo elevado. Os gastos do governo, especialmente as transferências à populações de baixa renda, que se transformam integralmente em consumo, seguem se expandindo acima do crescimento real do PIB. Impulsionado por todos estes fatores, o PIB deverá crescer cerca de 2,7% em 2024, ritmo próximo ao observado em 2023 e 2022.
A inflação, que até poucos meses atrás se encontrava em ritmo próximo à meta de inflação de 3%, acelerou-se, e hoje gira, medida por seus núcleos, próxima ao teto do intervalo de tolerância. A tendência à frente é de aceleração em direção a 5%. A postura do governo no plano fiscal - que é de insistir em aumentos de impostos, a esta altura, já inviáveis, e se recusar em reduzir os gastos, alimenta as expectativas de inflação. A conta vai sobrar para os juros, que, hoje, tendo em vista este quadro, estão completamente fora do lugar. A procrastinação do ciclo de aperto monetário e a comunicação confusa do Banco Central, que por algum motivo misterioso se recusa a formalizar um diagnóstico claro da situação - a despeito de seus diretores falarem em eventos públicos todos os dias, às vezes várias vezes por dia, não tem, também, contribuído para a organização do ambiente macroeconômico.
Mas estes estão longe de ser os únicos problemas de nossa conjuntura.
Não é de hoje que nosso ordenamento constitucional deixou de existir. Inviolabilidade de parlamentares por quaisquer de suas palavras, direito de acusados por quaisquer crimes à ampla defesa e ao devido processo legal, separação e independência dos poderes constituídos, igualdade de todos perante às leis, liberdade de expressão, tudo isso e muito mais tornaram-se letra morta há muitos anos. Os corruptos e corruptores responsáveis pela tragédia que levou à maior recessão da história do Brasil estão todos soltos, enquanto senhoras de idade estão presas, condenadas a dezessete anos de cadeia por crimes que não cometeram. A lista de barbaridades é tão grande e tão conhecida que não precisa ser aqui repetida.
Dada a falta de contrapesos institucionais, a conivência da imprensa, das lideranças do congresso nacional, e da elite empresarial com relação à abolição do ordenamento legal do Brasil, os últimos desenvolvimentos nesta seara eram amplamente previsíveis.
O banimento do X , única rede social que permitia a livre manifestação de indivíduos, veio acompanhado do bloqueio de bens e receitas da Starlink, a única empresa capaz de levar sinal de internet à regiões remotas, como a Amazônia e as zonas oceânicas. Seus serviços são amplamente utilizados por grandes e pequenos empresários do setor agropecuário, bem como pelas forças armadas.
O X é o aplicativo mais acessado do Brasil. É uma rede que tem mais de 20 milhões de usuários. Milhares de pessoas tiram desta plataforma o seus sustento. Mais importante , num país onde a imprensa já não cumpre seu papel há décadas, o X tornou-se praticamente a única fonte onde é possível buscar-se a verdade.
Já o bloqueio das contas da Starlink significa a extensão do fim do ordenamento constitucional ao ordenamento das leis comuns. Sinaliza o fim de qualquer mínimo respeito aos princípios que permitem o funcionamento de sociedades e empresas. Se agências de rating ainda fossem instituições sérias, um evento como este seria suficiente para a redução imediata de alguns degraus na nota de crédito do país.
Eventos como os dos últimos dias estão colocando o Brasil em um grupo de países totalitários, onde não existe ordenamento legal ou segurança jurídica, e que não apenas já são ou estão se tornando não elegíveis a investimento estrangeiro, como também estão sujeitos à evasão do capital de seus próprios residentes, como Rússia, Cuba, China, Coreia do Norte e Irã.
Há anos o país afunda num abismo legal e moral que parece não ter fim. Além dos diretamente afetados pelas ilegalidades, são poucos os que parecem se importar com esta realidade. Porém, as consequências deste desleixo estão prestes a contaminar os preços de ativos, o único sintoma que costuma fazer com que as lideranças políticas e a elite tomem alguma atitude.
O país está numa encruzilhada. Ou a imprensa, as lideranças do congresso e a elite empresarial começam a trabalhar para mudar esta situação, ou a elevação de juros e os poucos bilhões de reais de despesas discricionárias em disputa no orçamento do ano serão, em breve, os menores de nossos problemas econômicos.
Que texto bosta, mas um bolsomininho frustrado, cria vergonha na cara rapaz, larga de ser frouxo.
acho que existe uma grande maioria que gostaria o certo, correto mas... não sabe como (ainda)
https://stowgrowglow.substack.com/p/what-kind-of-democracy-you-want