A clivagem política iniciada em 2018 avançou
Independentemente do resultado do 2º turno da eleição presidencial, a composição do congresso eleito, e os movimentos de apoio político em curso aos dois candidatos permitem inferir que a clivagem política iniciada na eleição de 2018 avançou de forma significativa.
Mais do que simplesmente o aumento do tamanho das bancadas dos partidos de centro-direita, como o PL e o União Brasil, o perfil majoritariamente conservador dos parlamentares eleitos chama a atenção, em especial, no Senado.
A última vez que o congresso contou com uma fração relevante de representantes de orientação conservadora foi na 42ª legislatura, eleita em 1962. À época, o núcleo conservador se aglutinava em torno da UDN, mas incluía outros partidos, como o PR de Artur Bernardes, o Partido Democrata Cristão, de Franco Montoro, e o Partido Social Progressista, de Adhemar de Barros.
O regime militar cassou parlamentares de expressão à direita e à esquerda. Após a reabertura política, a partir de 1982, a associação dos políticos remanescentes à direita do espectro à antiga Arena os levou à reclusão, e, posteriormente, à sua quase integral exclusão das deliberações que levaram à elaboração da Constituição de 1988. Como consequência, a política das décadas seguintes viria a seria dominada quase exclusivamente por figuras à esquerda do espectro, notadamente, associadas ao PT e ao PSDB.
O eleitorado de perfil conservador permaneceu sem opções viáveis de representação, tanto no congresso, quanto na presidência de República, desde fins da década de 80, até muito recentemente.
A eleição de 2018 marcou uma inflexão neste hiato, mas o movimento, no presente pleito, foi muito além.
Os movimentos de apoio de quadros importantes do PSDB ao candidato do PT, de um lado, e de governadores do centro-sul à reeleição do presidente da República, de outro, realçam este reordenamento do quadro político. O contraste e a oposição entre direita e esquerda, que, no Brasil, permaneceram, durante décadas, restritos simplesmente às opções por uma grande ou por outra ainda maior presença do estado na economia, tornaram-se nítidos como há muito não se via, incluindo, para além do plano econômico, questões morais e comportamentais.
A clivagem política iniciada em 2018, se não se completou, avançou substancialmente. Consideradas as limitações de nosso sistema eleitoral, que infelizmente não adota o voto distrital para a Câmara dos Deputados, o congresso eleito, em especial o Senado, onde a eleição é majoritária, parece ser uma representação do perfil da população menos imperfeita do que a habitual.